vendredi 31 décembre 2010

Thomas Jefferson

Eu acredito demais na sorte. E tenho constatado que, quanto mais duro eu trabalho, mais sorte eu tenho.



Engenharia esta bombando!



A pilha de 400 000 currículos enviados à Vale, a maior empresa privada brasileira, ajuda a retratar uma mudança crucial no mercado de trabalho no Brasil. Apenas uma pequena parcela da montanha de propostas é de engenheiros. Mais exatamente, 5%, ou 20 000 currículos. Onde está a mudança? Em primeiro lugar, há alguns anos o número de propostas de trabalho enviadas por engenheiros era muito maior. A segunda e mais importante: a Vale precisa agora do dobro do número de engenheiros que se apresentaram para preencher as vagas disponíveis. A solução? A Vale foi às faculdades tentar recrutar estudantes antes mesmo da formatura. O exemplo acima é o microcosmo de um fenômeno mais abrangente, um típico "bom problema", o da escassez de mão-de-obra especializada em uma economia que cresce sem parar. Segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil tem hoje seis engenheiros para cada grupo de 100 000 pessoas, quando eles deveriam ser pelos menos 25 por 100 000 habitantes para dar conta das vagas atualmente abertas. A escassez de engenheiros é um problema para qualquer país, mas, no caso de nações em desenvolvimento com infra-estrutura maltratada, como o Brasil, a situação é mais crítica. Isso porque eles são mais necessários em um país que tem estradas, ferrovias, portos, fábricas e edifícios por fazer. Em um momento de crescimento econômico como o atual, essas obras começam a sair do papel – e aí os engenheiros e técnicos de alto nível passam a ser os personagens principais entre os agentes econômicos. Resume o economista Marcos Formiga, coordenador da pesquisa: "Formar engenheiros em ritmo acelerado tornou-se uma questão de sobrevivência para o Brasil".

Como começou a engenharia do Brasil!




Os primeiros engenheiros chegaram ao país por volta de 1792, com a missão de ensinar ciências, matemática e artilharia aos oficiais de artilharia.

Como havia necessidade de defender o território com fortificações, d. Luiz de Castro, vice-rei do Brasil, criou, naquele ano, a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, no Rio de Janeiro. Em 1810, ela virou a Academia Real Militar.

Ao longo do século 19, passou por denominações diversas, até se tornar Escola Politécnica em 1874, separada do Ministério do Exército e voltada à formação de civis. Hoje, é parte da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

A Academia Militar foi transformada em Escola Central (acima., em 1860), onde tanto civis como militares estudavam; em 1968 foi construído o Centro de Tecnologia na Ilha do Fundão (ao lado), que hoje é o campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Realidade do Futebol!!! Leo Rabello! Gostei desse cara!





Com apenas 29 jogadores sob seu comando, nenhum deles no topo da cadeia internacional, Léo Rabello pode não parecer um empresário influente para as novas gerações. Mas foi ele o primeiro brasileiro a enxergar potencial no mercado de transferências. Rubro-negro desde a infância, chegou a dirigente do clube nos anos 70. Naquela década, nascia a geração que transformaria o clube em um gigante de conquistas. Surgia também um estalo para Rabello. Ali ele percebeu que a falta de tato dos jogadores para negociações era uma mina de ouro. Trocou o amadorismo dos cargos de diretoria pelos cifrões que enxergou de longe.


Atualmente, o dono da carteirinha 001 de agente Fifa no Brasil não tem o futebol como número um em sua lista de prazeres. Empresário há 25 anos, Léo Rabello é exemplo clássico do velho ditado sobre consumo de salsichas. Se quem as produz é incapaz de comê-las, o mesmo vale para quem conhece a fundo os ingredientes dos boleiros. Rabello não vai a um estádio desde 2008. Só torce pelo seu Flamengo pela TV, e mesmo assim com bem menos ímpeto dos que nos velhos tempos. Atualmente, na maior parte das vezes um jogo é só um jogo. Ou melhor, só mais uma oportunidade de negócio.


Estou no futebol desde 66. Isso frequentando o Flamengo. Como dirigente, desde 77. Ninguém é filho de chocadeira, sou Flamengo, era fanático. Hoje há um desgaste grande. Praticamente não vou a jogo. O último  foi a final da Libertadores do Fluminense contra a LDU. Quando quero um jogador, mando os nossos auxiliares verem. Às vezes, acho meio enfadonho. O futebol que o público vê é uma grande mentira. O jogador de futebol vê dinheiro. Esse carinho, esse amor não existe, é folclórico. Quem balança a camisa quando faz gol, beija escudo, é hipócrita. Raros pensam diferente – resumiu o agente, que tem como principais ações neste fim de ano a permanência de Joel Santana no Botafogo, a transferência de Madson para o Atlético-PR e a tentativa de retorno de Thiago Neves do Al Hilal para o futebol brasileiro (Fluminense e Flamengo são os interessados).


A tese de que futebol é uma fraude bem disfarçada confirma o autorretrato de Rabello, que se define acima de qualquer coisa como um “autêntico”. A língua sem travas não acerta só os jogadores. O empresário também se incomoda com a classe dos dirigentes. Ele culpa a legislação e diz não entender como um cartola pode ser responsável por orçamentos milionários sem ser cobrado profissionalmente por isso. De peito aberto, admite que às vezes tira proveito dos erros de planejamento das diretorias. Quando os resultados não acontecem, é hora daquele telefonema básico oferecendo reforço.


 Em geral, é o agente que vê as carências do clube e oferece. É difícil um dirigente ligar para pedir indicação. Existe, mas o mais comum é o contrário. No futebol não tem santo. Mas procuramos fazer as coisas certas para depois não sobrar para nós também. Você tem de zelar pela sua empresa, seu nome. Senão, fica queimado. Em 30 anos você constrói um nome, não pode perder isso. A verdade é que o futebol brasileiro cada vez progride mais em campo, mas fora dele não melhora nada. Não pode ter um clube com o orçamento que tem hoje dirigido por amador. Era preciso fazer os dirigentes tratarem o clube como se fosse sua casa. Ele trata como um divertimento. Não tem responsabilidade. Quando perdem três ou quatro partidas, querem contratar de qualquer maneira. E fazem errado, não há planejamento. Falta zelo. Igual ao Flamengo no caso do Zico. Contrataram ele sem experiência nenhuma. E as pessoas não têm coragem de colocar na conta do Zico essas negociações malfeitas, não por má-fé, mas por total falta de experiência. Não pode ter só nome para gerir futebol. As pessoas acham que esses caras vão resolver, Zico, Júnior. É tudo na base da emoção.


Muitos desgastes


Rabello ataca os craques que tentaram carreira na gestão do Flamengo, mas a recíproca é a mesma. Em 2004, Júnior teve problemas com o empresário logo no início da sua caminhada como dirigente. Com boas relações na diretoria, o agente tentou colocar na Gávea o desconhecido atacante argentino Castillo. Fechou tudo com a ala amadora no clube, mas Júnior brecou. Atualmente, ninguém lembra mais de Castillo. Mas também é verdade que não são boas as lembranças de Rafael Gaúcho, Negreiros, Welliton, Diogo, Flávio e Dill, alguns dos atacantes que vestiram a camisa rubro-negra naquela temporada.


O desgaste com alguns dirigentes não é a única reclamação de Rabello. O empresário também se incomoda com as marias-chuteiras que cercam seus atletas, e brinca dizendo que "se abrisse um laboratório de teste de DNA, ia ganhar um dinheirinho bom". Outras burocracias também lhe tiram do sério.  Mas, aos 72 anos, a aposentadoria não é sequer cogitada. O trabalho de 10h às 18h, com 11 funcionários, lhe dá muito mais lucros do que dores de cabeça. Em julho de 2008,  Thiago Neves saiu do Fluminense para o Hamburgo por sete milhões de euros. Seis meses depois, o meia foi vendido para o Al Hilal pelo mesmo valor. Rabello não diz qual foi sua parte no negócio, mas a praxe no mercado da bola é de 10% da negociação para os agentes, o que daria mais de R$ 3 milhões nas duas transações para o sistema, ou melhor, para a Systema, nome de sua empresa.


Se o afeto pelo vermelho e preto não é mais o de antigamente, a relação profissional com o clube continua estreita. Seis nomes da base do Flamengo têm contrato com Rabello: o goleiro Caio, os zagueiros Fernando e Escobar, os meias Vitor Saba e Ygor, e o atacante Vitor Hugo. Entre os profissionais, há o volante Rômulo. O Fluminense aparece como segundo colocado na lista de atuações, com três jogadores, sem contar o interesse em Thiago Neves. No clube, há quem diga que o zagueiro Thiago Sales, também do casting de Rabello, só foi para as Laranjeiras em julho porque estava no “pacote” para o empresário lutar pela liberação de Neves. O goleiro juvenil Silezio e o volante Leandro Dantas são outros vinculados a Fluminense e Rabello.


O agente aposta na base, mas diz que, se fosse dirigente de clube, jamais permitiria a presença de empresários nos treinos das promessas. Em sua visão, é aonde os aproveitadores mais têm êxito.


 Hoje o mercado é uma bagunça total. Entre os credenciados não falta ética, mas tem muita gente que não tem licença para trabalhar e está aí só para ficar enganando os outros. Os clubes aceitam negociar com esses caras e depois sempre quebram a cara. Mães vêm aqui reclamar. Tem cara que toma dinheiro da família prometendo levar para o exterior. Toda hora aparece. Mas é caso de polícia, não podemos fazer nada. Em geral o cara vai ali para a divisão de base. Devia ser proibida a entrada de todo mundo, é aonde acontecem os maiores problemas no futebol. Os clubes são os grandes responsáveis. Treino de futebol devia ser fechado sempre, não devia entrar ninguém. Só imprensa com horário certo para entrevistas. A coisa não evolui nesse aspecto.


Nesta época do ano, os telefonemas aumentam na proporção dos anúncios de panetone e jingles melosos.


Tocam umas 30, 18 furadas.  É imprensa, conversa fiada, jogador ligando para pedir ajuda. A estrela não liga, mas os outros ficam preocupadíssimos quando estão sem contrato. Nós temos uma responsabilidade grande. Isso que você lê no jornal, o glamour, isso não existe. Mais de 90% dos jogadores, que deve ser algo perto de 20 mil federados, vivem na maior miséria. Só 3 ou 4 % têm esses salários altos. Não passa disso. Futebol é uma profissão muito efêmera. O cara trabalha 10 anos em média. O salário alto dilui no tempo. Raros são aqueles que têm formação para exercer uma profissão. É treinador, preparador físico, auxiliar, fora isso não tem mais nada para fazer. Porque eles não estudam nada, não sabem nada. E precisam de alguém estruturado por trás para render bem.

jeudi 30 décembre 2010

Nascimento e Gloria de Jupiter!


Saturno, após destronar sangrentamente o próprio pai, era agora senhor de todo o Universo.
— Aqui é assim: mando eu e ninguém mais — dizia o tempo todo, a ponto de suas palavras reverberarem noite e dia pelos céus.
Certa feita, sua esposa, Cibele, que também era sua irmã, chegou-se a ele e disse:
— Abrace-me, querido Saturno, pois serei mãe!
O velho Saturno, encanecido no mando, esboçou apenas um sorriso.
— Muito bonito — resmungou o deus. — Mas e daí?
— Ora, e daí que você, meu esposo, será pai! — disse ela, tentando animá-lo. Esta palavra, no entanto, despertou a fúria de Saturno. Pondo-se em pé, com os olhos acesos, esbravejou:
— Não quero ouvir falar mais nesta palavra aqui no céu. Imediatamente ordenou que a pobre Cibele saísse da sua frente, para que pudesse reorganizar seus pensamentos. A praga que seu pai lhe lançara no dia em que o mutilara com a foice diamantina ainda ecoava em seus ouvidos:
"Ai de você, rebento infame... Do mesmo modo que usurpou o mando supremo. irá também um dia perdê-lo..."
— Nada de filhos — exclamou, por fim, a velha divindade. — Cibele, venha já até mim!
Sua esposa surgiu, um tanto intimidada.
— Quando nasce esta criatura que você está carregando? Vamos, diga! — bradou Saturno.
— Nos próximos dias, Saturno querido...
— Assim que nascer, traga-a imediatamente até mim.
— Assim será, meu esposo.
Cibele, correndo os dedos pelas madeixas, sorria candidamente. Alguns dias depois, com efeito, nasceu o primeiro bebê: era Juno, uma menina encantadora, porém de poucos sorrisos.
— Deixe-me vê-la — sussurrou Saturno, besuntando de mel a sua áspera i
— Veja, não é linda? — disse Cibele, a imprudente.
— Encantadora! — respondeu o deus, com um sorriso equívoco.
— Vamos, dê-lhe um beijo! — disse Cibele, a louca.
O velho deus tomou, então, a criança, envolta nos panos, e aproximou-a de seu imenso rosto.
— Dá mesmo vontade de engoli-la inteira — exclamou, arreganhando os dentes.
Cibele chorou de ternura.
Num segundo Saturno abriu de par em par a bocarra, como duas portas que dão para um abismo, e engoliu a pobre criança, que não deu um único pio.
Cibele chorou de horror.
Sem descer a explicações, Saturno tomou a cabeça da esposa em suas mãos e exclamou:
— E nada de choros, hein? Nada de vinganças. Depois, despediu-a, não sem antes adverti-la:
— E já sabe: nascendo outro, quero-o logo aqui.
Saturno dava tapinhas na sua barriga cheia, como que parabenizando-se pelo engenhoso estratagema. Depois retomou o seu eterno estribilho, agora com renovado prazer:
— E você aí dentro, já sabe: aqui é assim, mando eu e ninguém mais.
O tempo passou e foram nascendo os rebentos. Tão logo os filhos da desgraçada Cibele iam saindo do cálido ventre da mãe, eram imediatamente metidos na cova tétrica do estômago do pai. Passaram, assim, por este odioso portão, além da já citada Juno, os infelizes Plutão, Netuno, Vesta e Ceres.
Quando chegou, porém, a vez do quinto bebê, Cibele, farta de tanta sujeição, revoltou-se afinal:
"Não, este não...", pensava, e o seu laconismo dava bem a medida da sua determinação.
Passando, então, das palavras à ação, correu até a mais distante caverna do mundo — a caverna de Dicte — e lá gemeu e gritou, até dar à luz Júpiter, seu último e mais esperado filho.
Depois de entregar o garoto aos cuidados das ninfas da floresta, Cibele retornou às pressas para o palácio de Saturno. Uma vez em seus aposentos, envolveu uma pedra nos lençóis e começou a gritar, como quem está em trabalho de parto.
— Temos nova peste — exclamou Saturno, rumando celeremente para o quarto.
Tão logo enxergou sua esposa segurando algo envolto nos panos, tomou-lhe o embrulho
das mãos e engoliu-o, imaginando ser o quinto bebê.
— É o último, hein... ? — disse o deus, limpando a boca com as costas da mão e desaparecendo em seguida pela porta.
Mas Cibele chorou, como das outras vezes.
Tudo agora parecia em paz, pensava Saturno, enquanto gozava do silêncio, refestelado em seu trono dourado. De vez em quando, porém, repetia bem alto o seu amado estribilho, pois o silêncio absoluto enchia-o de vagas apreensões.
— Bom mesmo é minha voz retumbando: aqui é assim, mando eu e ninguém mais — gritava ele, acalmando-se.
E isto era bom, também, para o jovem Júpiter, que permanecia oculto nas grutas distantes, podendo chorar à vontade. Quando chorava alto demais, as ninfas que dele cuidavam ordenavam que alguns guerreiros, chamados curetes, reverberassem seus escudos com toda a força, para abafar os sons infantis.
Para acalmá-lo, havia uma doce cabra, chamada Amaltéia, que o amamentava e lhe servia de distração — distração que também lhe era trazida por uma bola estriada de ouro, que o garoto recebera de presente de uma das ninfas, a qual ao subir e cair deixava no céu, como um fulgente meteoro, um belo rastro dourado.
Por fim, havia ainda uma águia encantada que todos os dias vinha de todas as partes do mundo contar novidades e instruir o jovem deus nas coisas da vida.
— Júpiter, grande deus — disse-lhe um dia a águia, quando o garoto já estava crescido -, já é hora de saber sobre o terrível perigo que você corre.
A ave, então, narrou ao deus todo o drama que dera origem à sua existência.
— Vai e liberta os seus irmãos da negra prisão em que estão metidos, para que você possa assumir o lugar de seu pérfido pai no comando do mundo — disse a águia, estendendo as longas asas, para enfatizar suas palavras.
Júpiter, que era um rapaz extraordinariamente forte e corajoso, acatou imediatamente a sugestão da sua fiel conselheira; auxiliado pela filha do titã Oceano, a suave Métis, tomou posse, então, de uma poderosa erva mágica.
— Faça com que seu perverso pai beba desta poção e num instante verá regurgitados todos os seus aprisionados irmãos — disse-lhe a bela oceânide.
Júpiter conseguiu disfarçar-se de escanção de Saturno, oficial que deveria servi-lo, e ofereceu-lhe a atraente beberagem numa taça de ouro.
— Que espécie de néctar é este, que tem o brilho de todas as cores e se perfuma de todos os odores? — perguntou Saturno, arregalando o olho para dentro da taça.
— Um néctar como nunca experimentou igual! — asseverou Júpiter, desviando ao mesmo tempo o olhar da carranca severa do pai.
Saturno, após infinitos vacilos, finalmente emborcou o conteúdo da taça. A princípio estalou os beiços, achando maravilhosa a poção. Durou pouco, entretanto, o prazer, pois logo em seguida o velho começou a passar muito mal.
— Mas o que é isto? — exclamou Saturno, fazendo-se todo branco. — Sinto náuseas fortíssimas!
Dali a instantes Saturno começou a regurgitar, um por um, cada um dos filhos que havia ingerido. Pobre deus! Como já fazia muito tempo que os engolira, agora se via obrigado a restituílos completamente adultos. A incrédula Cibele, que estava junto do esposo, ia recebendo cada um dos filhos com a face lavada pranto:
— Oh, Juno querida... Vesta amada... Adorada Ceres... Netuno, meu anjo! Plutão, meu amor...
Com o retorno de seus irmãos, Júpiter havia dado o primeiro e irredutível passo para retirar o poder supremo do mundo das mãos de seu pérfido pai.
— Exijo, Saturno cruel, que me ceda agora o cetro do mundo! — exclamou Júpiter, com altivez e confiança.
— Como ousa levantar mão ímpia contra mim, o soberano do mundo? -exclamou Saturno, repetindo ao filho algo que lhe soava estranhamente familiar.
Pressentindo, no entanto, o perigo, Saturno tratou logo de ir procurar seus antigos irmãos e aliados — os velhos, porém ainda fortíssimos, Titãs.
— Mas isto é o fim dos tempos! — acrescentou, criando uma frase que as gerações futuras repetiriam sempre que uma civilização entrasse em decadência.
A Guerra dos Titãs apenas começava a ser esboçada.

Nascimento e Gloria de Saturno!



Numa era muito antiga — tão antiga que antes dela só havia o caos — o mundo era governado pelo Céu, filho da Terra. Um dia, este, unindo-se à própria mãe, gerou uma raça de seres prodigiosos, chamados Titãs. Ocorre que o Céu — deus poderoso e nem um pouco clemente — irritou-se, certa feita, com as afrontas que imaginava receber de seus filhos. Por isto, decidiu encerrá-los nas profundezas do ventre da própria esposa, à medida que eles iam nascendo.
— Aí ficarão para sempre, no ventre da Terra, para que nunca mais ousem desafiar a minha autoridade! — exclamou, colericamente, o deus soberano.
A Terra, subjugada, teve de segurar em suas entranhas, durante muitas eras, aquelas turbulentas criaturas e suportar, ao mesmo tempo, o assédio insaciável e ininterrupto do marido.
Um dia, porém, farta de tanta tirania, decidiu a mãe do mundo que um de seus filhos deveria libertá-la deste tormento. Para tanto escolheu Saturno, o mais jovem de seus rebentos.
— Saturno, meu filho — disse a Terra, lavada em pranto -, somente você poderá libertar - me da tirania de seu pai e conquistar para si o mando supremo do Universo!
O jovem e ambicioso Titã sentiu um frêmito percorrer suas entranhas.
— Diga, minha mãe, o que devo fazer para livrá-la de tamanha dor! — disse Saturno, disposto a tudo para chegar logo à segunda parte do plano.
A Terra, erguendo uma enorme foice de diamante, entregou-a ao filho.
"Tome e use-a da melhor maneira que puder!", disseram seus olhos, onde errava um misto de vergonha e esperança.
Saturno apanhou a foice e não hesitou um instante: dirigiu-se logo para o local onde seu velho pai descansava. Ao chegar no azulado palácio erguido nos céus, encontrou-o ressonando sobre um grande leito acolchoado de nuvens.
— Dorme, o tirano... — sussurrou baixinho.
Saturno, depois de examinar por algum tempo o rosto do impiedoso deus, empunhou a foice e pensou consigo mesmo: "Realmente... demasiado soturno."
E fez descer o terrível gume, logo abaixo da cintura do pobre Céu.
Um grito terrível, como jamais se ouvira em todo o Universo, ecoou na abóbada celestial, despertando toda a criação.
— Quem ousou levantar mão ímpia contra o soberano do mundo? — gritou o Céu, com as mãos postas sobre a ensangüentada virilha.
— Isto é pelos tormentos que infligiu à minha mãe, bem como a mim e a meus irmãos — respondeu Saturno, ainda a brandir a foice manchada de sangue.
Os testículos do Céu, arrancados pelo golpe certeiro da foice, voaram longe e foram cair no oceano, com um baque tremendo. Em seguida, o deus ferido caiu, exangue, sobre seu leito acolchoado, sem poder dizer mais nada. As nuvens que lhe serviam de leito tingiram-se de um vermelho tal que durante o dia inteiro houve como que um infinito e escarlate crepúsculo.
Saturno, eufórico, foi logo contar a proeza à sua mãe.
— Isto é que é filho — disse a Terra, abraçada ao jovem parricida. Imediatamente foram
soltos todos os outros Titãs, irmãos de Saturno. Este, por sua vez, recebeu a sua recompensa: era agora o senhor inconteste de todo o Universo.
Quando a noite caiu, entretanto, escutou-se uma voz espectral descer da grande cúpula
côncava dos céus:
— Ai de você, rebento infame, que manchou a mão no sangue do seu próprio pai! Do mesmo modo que usurpou o mando supremo, irá também um dia perdê-lo...
Saturno assustou-se a princípio, mas em seguida ordenou a seus pares que recomeçassem os festejos.
— Ora, ameaçazinhas... Deus morto, deus posto! — exclamou, com um riso talhado no
rosto.
Mas aquela profecia, irritante como um mosquito, ficara ecoando na sua mente, até que Saturno, por fim, reconheceu-se também meio soturno:
— Será que uma vitória, neste mundo, não pode ser nunca completa?